O Fies Social, criado para atender estudantes de baixíssima renda, tem gerado polêmica entre os alunos de medicina, que enfrentam mensalidades exorbitantes. Apesar de ser voltado para aqueles que ganham até 0,5 salário mínimo, o programa tem se mostrado insuficiente para cobrir os altos custos dos cursos. Alunos como Eduarda Cardoso, de 22 anos, relatam que, mesmo com o financiamento, precisam pagar mensalidades que ultrapassam R$ 2.300, o que torna a situação financeira inviável. A promessa de um programa “social” parece distante da realidade enfrentada por esses estudantes.
O Fies Social foi criado em 2024 pelo Ministério da Educação (MEC) com a intenção de financiar 100% das mensalidades para alunos de baixa renda. No entanto, a realidade é que existe um teto de R10milporme^sparaofinanciamento,oqueeˊinsuficienteparamuitoscursosdemedicinaquecobramvaloressuperioresaR 12 mil. Essa discrepância gera uma coparticipação que os alunos precisam arcar, o que contraria a proposta inicial do programa. A insatisfação é evidente entre os beneficiários, que se sentem enganados por um sistema que deveria ser acessível.
Ana Silva, de 24 anos, é uma das alunas que se matriculou em medicina pelo Fies Social e enfrenta dificuldades financeiras. Ao ingressar, a mensalidade era de R12.553,60,e,comotetodeR 10 mil, ela teve que pagar R2.553,60mensalmente.ComoreajusteparaR 14.037 em 2025, a situação se tornou insustentável, e Ana decidiu trancar sua matrícula. A pressão financeira e a falta de suporte adequado fazem com que muitos alunos reconsiderem suas opções de estudo.
A crítica ao Fies Social não se limita apenas ao teto de financiamento. Alunos que mudam de cidade para estudar enfrentam custos adicionais, como alimentação e transporte, que não são cobertos pelo programa. Lorena Alves, de 21 anos, desistiu de sua matrícula em medicina após perceber que o financiamento não cobriria todas as suas despesas. A falta de assistência estudantil, como auxílio-moradia, torna a situação ainda mais complicada para aqueles que já estão em situação de vulnerabilidade.
Letícia Brandão, de 28 anos, também se depara com desafios financeiros. Mãe solo e beneficiária do Bolsa Família, ela viu no Fies Social uma oportunidade de realizar seu sonho de estudar medicina. No entanto, a coparticipação mensal de R$ 980 se tornou um fardo pesado. Para contornar a situação, Letícia planeja vender salgados e doces, mas a pressão para desistir do curso é constante. A realidade de muitos alunos é marcada por sacrifícios e a luta para manter seus sonhos vivos.
A diferença entre o Fies Social e o Fies “normal” também é um ponto de discussão. Enquanto o Fies normal aceita estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos, o Fies Social é voltado para aqueles em situação mais crítica. No entanto, mesmo os alunos do Fies normal enfrentam dificuldades, pois o financiamento não cobre 100% das mensalidades, resultando em coparticipações que podem ser altas. Essa situação gera um ciclo de endividamento que afeta a vida de muitos estudantes.
A professora Camila Furlan da Costa destaca que as instituições de ensino têm a opção de conceder descontos nas mensalidades, mas isso não é uma obrigação. A portaria do MEC que permite essa prática não garante que as faculdades realmente adotem essa medida. Eduarda, uma das alunas, tentou negociar um valor mais acessível, mas foi informada de que a maioria das instituições não está disposta a oferecer descontos. Essa falta de flexibilidade agrava a situação dos alunos que dependem do Fies Social.
O FNDE, responsável pelo Fies, reconhece que o teto de R$ 10 mil é necessário para garantir a sustentabilidade do programa. No entanto, a proposta de revisão desse limite está em análise, com a expectativa de que mudanças sejam implementadas em breve. A necessidade de um financiamento mais alinhado com a realidade dos cursos de medicina é urgente, e muitos alunos esperam que o governo tome medidas concretas para tornar o Fies Social verdadeiramente acessível e eficaz.